Por que eles se afastaram e como lidar com isso

Lidando com a Dor da Separação e o Sentimento de Impotência

Quando confrontados com situações dolorosas, como o fim de um relacionamento, é natural sentir uma onda de dor, tristeza e medo. Muitas vezes, acreditamos que esses sentimentos são criados unicamente pela ação de outra pessoa. No entanto, é crucial questionar: onde exatamente esses sentimentos estão sendo gerados?

A experiência compartilhada revela uma percepção comum: a dor, o sofrimento e o medo causados pelo abandono de alguém parecem vir de fora. Mas, na verdade, a experiência emocional intensa está ocorrendo dentro de nós.

O Gatilho Externo e o Conteúdo Interno

É importante entender que o evento externo — como o parceiro ir embora — funciona primariamente como um gatilho para conteúdos inconscientes que já estão presentes em nosso interior.

Em muitos casos, o que vivenciamos após um término não é apenas a reação à perda atual. Pode haver uma cascata de emoções relacionadas a luto não processado do passado. Isso pode incluir sentimentos de pais ou figuras significativas que não estavam emocional ou fisicamente presentes na infância. A situação atual acaba refletindo, em maior grau, questões internas antigas do que a própria pessoa que partiu.

Quando nos sentimos impotentes diante da partida de alguém, estamos identificando uma dor que parece estar fora do nosso controle.

O Luto como Outro Lado do Amor

Uma bela reflexão sugere que a tristeza intensa sentida após a perda pode ser, na verdade, a outra face do amor. Se houve um profundo vínculo, a dor resultante da separação é um eco desse amor. Essa percepção, inclusive, pode se aplicar a perdas maiores, como o falecimento de um ente querido, onde o luto se revela como uma manifestação de amor.

A questão fundamental é: como estamos trabalhando essa energia? Estamos tentando desesperadamente eliminar a emoção, ou estamos permitindo senti-la e aceitá-la?

Identificando Padrões de Relacionamento

Ao analisarmos a reação a alguém que nos deixou, somos convidados a examinar se existe uma oportunidade para permitir-se sentir o medo ou a tristeza.

Muitas vezes, padrões de relacionamento se repetem. Se, por exemplo, estivemos em um relacionamento longo com alguém que tem vícios (como o alcoolismo), desenvolvemos uma alta tolerância, certa negligência e até mesmo negação em relação a certas dinâmicas.

Ao refletir sobre a atração por pessoas com vícios, é válido perguntar: qual é o benefício ou o *payoff* subconsciente que se obtém? Muitas vezes, o que se sente como compaixão pode, na verdade, mascarar a cumplicidade ou a dependência.

O Jogo da Manipulação e a Codependência

Existe uma tendência, especialmente entre aqueles que se veem como “doadores” ou “salvadores”, de se colocar em posições de tolerância excessiva, acreditando estar sendo bom ou útil.

É importante questionar: isso está realmente ajudando? Se a resposta é não, o sentimento de culpa aparece. Isso pode estar conectado à codependência, onde a pessoa tolera anos de situações difíceis (como o alcoolismo do parceiro) porque o relacionamento serve a um propósito subconsciente.

Se a pessoa se vê como a “salvadora” que tenta consertar o outro, ela está, de certa forma, casada com o padrão, e não necessariamente com a pessoa em si.

Ao se enxergar como a “boa pessoa”, tolerante e que ignora os problemas, a pessoa pode estar evitando confrontar verdades mais difíceis, como:

* Sentir que está sendo explorada ou ter seus limites ultrapassados.
* Reconhecer a própria indisponibilidade emocional.

Curiosamente, a dificuldade em se conectar emocionalmente pode se manifestar ao atrairmos parceiros que já estão indisponíveis devido a seus próprios vícios ou padrões, o que nos permite permanecer em um estado de “disponibilidade seletiva” — focados em consertar o outro, mas evitando uma intimidade verdadeira e assustadora conosco mesmos.

O Medo do Desconhecido vs. O Conforto do Familiar

O fim de um relacionamento familiar, mesmo que disfuncional, traz o medo do desconhecido e a insegurança de ficar sozinho. A familiaridade do padrão anterior, por mais dolorosa que fosse, é conhecida, enquanto o futuro é incerto.

Ao ser questionada sobre o que a assusta, a resposta aponta para:

* A mágoa da partida.
* O sentimento de impotência.
* O medo do futuro desconhecido.

É fundamental validar esses sentimentos: é normal sentir-se magoado, ter medo e sentir tristeza. A chave, no entanto, não é tentar eliminar essas emoções, mas sim abraçá-las.

O Poder de Sentir a Emoção

Em vez de buscar formas de fazer o medo ou a tristeza irem embora, o convite é para abraçá-los. Onde você sente essa energia no corpo? Sentir essa emoção — onde ela reside fisicamente, seja no peito ou na barriga — é onde reside o potencial para a quebra de padrões.

A voz da dor interna pode dizer: “Volte. Por que você fez isso? Eu não quero ficar sozinha.”

Essa parte de nós que se sente sozinha — a criança interior que se sentia desamparada no passado — é a parte que precisa de atenção e integração. Se não honrarmos esse sentimento de solidão interna, continuaremos a atrair pessoas que, mesmo fisicamente presentes, nos farão sentir sós. A presença física não preenche a ausência interna.

Conectando-se com a Criança Interior

A prática sugerida é trazer essa versão de si mesma que se sente abandonada e solitária para o presente, sendo gentil e presente com ela. Perguntar a essa parte o que ela precisa pode revelar mensagens de conforto e segurança: “Está tudo bem. Deus está com você. Seus amigos e animais estão aqui.”

Reconhecer que a felicidade e a sensação de ser uma “boa pessoa” estavam atreladas à dinâmica do relacionamento — onde se permitia ser feliz na presença do outro — é o passo para entender que a felicidade é, em última instância, uma escolha interna.

Ao nos tornarmos conscientes dos padrões de tolerância e negação, criamos espaço para focar em nós mesmos. O benefício real surge quando se consegue levar essa pequena parte de si, que se sente sozinha, para o presente, honrando e acolhendo-a em vez de tentar suprir essa carência através de relacionamentos desequilibrados. Isso gera um sentimento de esperança.