Os perigos da autopiedade que você precisa saber

Os Perigos da Autopiedade e Como Superá-la

Este artigo aborda o conceito de autopiedade e os riscos de se prender a esse estado, ilustrado por uma experiência pessoal marcante.

Em 2006, sofri um acidente muito sério que quase me custou a vida. Fiquei preso nas ferragens após um caminhão invadir minha faixa e colidir comigo. Os bombeiros tiveram que me retirar, e eu quebrei um osso, passando 90 dias em recuperação. Dessas, quase 60 dias tive que dormir sentado, o que foi uma experiência terrível. Lembro-me que um dos maiores prazeres que senti foi quando finalmente consegui dormir deitado novamente, apoiado em travesseiros para evitar qualquer movimento no osso afetado. Foi um prazer indescritível poder descansar deitado após quase 60 dias.

As Dificuldades Financeiras Pós-Acidente

Além da recuperação física, enfrentei grandes problemas financeiros. Eu tinha seguro do meu carro, mas a seguradora e a corretora entraram em um jogo de empurra-empurra, e a cobertura não foi efetuada. O único bem que eu possuía naquele momento era o carro, que era essencial para o meu sustento, pois eu viajava bastante para dar treinamentos. Com a não cobertura, fiquei completamente quebrado financeiramente. Tive que financiar outro carro e pedir dinheiro emprestado aos parentes, o que me colocou em uma situação muito complicada.

Adicionalmente, havia clientes que consultavam comigo e pagavam no final do mês. Naquela situação difícil, muitos deixaram de acertar os pagamentos, e alguns até sumiram. Lembro-me de ter pensado que, se os clientes que me deviam tivessem pago em dia, eu não teria passado por tanta dificuldade. Isso reforça a importância de se ter uma boa governança financeira.

O Desenvolvimento da Autopiedade

Com toda essa pressão, comecei a sentir pena de mim mesmo. A pena de si mesmo é algo avassalador. Eu pensava: “Meu Deus, o que fizeram comigo? Não é justo que isso aconteça comigo, logo eu que ajudo os outros?”. Eu me tornei uma vítima do mundo pelo que havia ocorrido, sentindo-me fracassado, sofredor e vítima.

Quando isso acontece, desenvolve-se uma das piores energias, que atrai mais situações negativas, mantendo a pessoa na “desgraça”. Eu estava nesse ciclo, até que um dia uma amiga visitou-me em meu apartamento — pois passei 90 dias morando de favor na casa de amigos após o acidente. Ela percebeu minha vibração e me disse algo que mudou minha perspectiva:

  • “Bruno, você podia nem estar aqui.”
  • “Pior, Bruno, você poderia nem estar aqui, tendo deixado um monte de gastos para nós pagando funeral.”
  • “E o pior, Bruno, você poderia estar aqui enfurnado numa cama, sem nem conseguir falar, e isso seria ainda pior.”

O Despertar e a Responsabilidade

As palavras dela fizeram uma chavinha virar dentro de mim. Eu comecei a questionar o que eu estava fazendo com a minha vida. Despertei para a responsabilidade: “Eu sou responsável pela minha vida. Eu mereço. Eu tenho direito. Eu sou digno. Eu não sou o que fizeram comigo, eu sou o que eu escolho fazer.”

Quem não define um futuro claro se torna escravo do passado, preso na autovitimização. Este é um estado mental e espiritual terrível, que pode até se manifestar como doença física, aumentando seriamente as chances de desenvolver problemas como o diabetes.

É preciso parar com a piedade. Entendo que coisas terríveis acontecem e sou solidário, mas é preciso tratar-se. Você não é o que fizeram com você; você é o que você decide ser.

Carência e Falta de Propósito

Muitas vezes, apegar-se à dor ou a uma doença do passado é uma forma de preencher um vazio existencial e carência de propósito. Se isso acontece, é necessário buscar atividades que gerem valor:

  • Fazer caridade.
  • Desenvolver um projeto.
  • Começar a fazer academia ou cuidar de um jardim (que é altamente terapêutico).
  • Mudar a vibração lendo, estudando, participando de grupos ou aprendendo um novo hobby.

Não deixe que a autopiedade te pegue, pois se ela te dominar, você estará “lascado”.

Os Princípios para Sair da Autopiedade

Para sair desse estado, dois princípios são fundamentais:

1. Gratidão Simples

A gratidão é o primeiro passo. Pratique a gratidão pelas coisas básicas que muitas vezes ignoramos:

  • Pela família, corpo físico, pais, irmãos.
  • Pela comida que você come, pelo banho que toma, pelo lugar onde mora.
  • Pelos seus sentidos e por estar vivo.

A gratidão funciona como um exercício de contraste. Imagine se tudo o que você não agradeceu no dia anterior desaparecesse no dia de hoje: papel higiênico, saneamento básico, água limpa, café da manhã, seu animal de estimação, seus parentes, seu teto. Ao perceber a ausência, a pessoa começa a sentir gratidão genuína pelas coisas que já possui. Gratidão é honrar o que já se tem para atrair mais.

2. Mudar a Relação de Culpado e Vítima

O segundo princípio é mudar a relação com o que te fizeram, abandonando a dinâmica de “crime e castigo”, “vilão e vítima”. Essa mentalidade é comum em quem nunca buscou terapia, estudo ou desenvolvimento pessoal, seja em ambientes religiosos, centros espíritas ou grupos de estudo.

É negligência não cuidar do emocional e não entender que a missão humana é melhorar como ser. A mágoa forte, por exemplo, é um sinal claro de baixo desenvolvimento pessoal.

É importante reconhecer que a mágoa pode nos paralisar. Poucas vezes compartilhado, o que me impulsionou para o desenvolvimento pessoal, a espiritualidade, escrever livros e me tornar professor foi justamente uma grande mágoa que eu sentia de um amigo próximo, onde me sentia profundamente vítima da situação. Hoje, sinceramente, posso dizer que se não fosse por essa mágoa, eu não estaria onde estou, pois a dor era tão grande que me forçou a buscar tratamento e evolução.

Se você se sente magoado ou vítima, precisa de terapia, estudo e prática. Procure grupos que mostrem um lado diferente da moeda, encontre mentores e estude. Você precisa entender que o peso do ano passado não deve ser carregado para o próximo. Cuide do seu desenvolvimento para superar a mágoa e a vitimização.