Como Deixar Ir e Confiar na Vida (Mesmo Quando Não Faz Sentido)

Como se Render e Confiar no Universo (ou em Deus) Quando Parece que Isso Vai Destruir Sua Alma

Esta é uma questão muito comum e importante: como podemos nos entregar e confiar no Universo ou em Deus quando a situação parece tão avassaladora a ponto de “quebrar nossa alma”?

Muitos buscam respostas para como abandonar o controle e confiar plenamente, especialmente quando o medo de um colapso emocional ou existencial é intenso.

O Ego e o Medo da Perda de Controle

O primeiro ponto fundamental a entender é que sua alma não será quebrada. Quem está fazendo essa pergunta, expressando esse medo, é o ego.

O ego é a parte de nós que anseia por controle e apego. Se o ego está apegado, a crença subjacente é que, mantendo o controle, ele pode se manter seguro em energias e situações familiares. É o ego que se desespera e tenta controlar a realidade de forma ainda mais intensa.

Isso se relaciona intimamente com a ideia de manifestação. Algumas pessoas relatam ter sido ótimas em manifestar, mas agora sentem bloqueios e incapacidade de atrair o que desejam. A mudança de perspectiva aqui reside na entrega e na cessação do controle forçado.

Quando abandonamos o apego, o controle e até mesmo o desejo insistente, as coisas acontecem, mas não por carência. O erro comum é tentar criar a partir de um lugar de falta.

O Poder da Entrega (Letting Go)

Deixar ir (ou a técnica de “letting go”) é um dos processos mais poderosos para alcançar a liberdade. O processo é surpreendentemente simples:

1. Permita que a emoção exista: Deixe a emoção que está surgindo simplesmente estar presente. Não tente controlá-la.
2. Acolha e observe: Dê boas-vindas à emoção. Observe quais sensações estão surgindo e sinta-as plenamente.
3. Escolha soltar: Somente depois de permitir que a emoção esteja presente, você pode fazer a escolha de deixá-la ir. Para soltar, você deve primeiro permitir que ela seja.

Isso é contraintuitivo, pois muitas pessoas buscam mudar a maneira como se sentem imediatamente, em vez de processar a sensação presente. A tentativa de mascarar, evitar ou “consertar” um sentimento gera resistência. Ao resistir, nós persistimos naquilo que estamos tentando eliminar.

A Ilusão do Controle

Lembre-se: a cada momento, você tem uma nova oportunidade. Qual é a história que você está contando a si mesmo sobre por que precisa permanecer apegado? Muitas vezes, essa história é baseada no que é familiar, aprendido desde cedo.

Para se libertar e render-se ao divino, é preciso um salto de fé, abandonando o desejo do ego de ter tudo sob controle e planejado. Permitir que algo maior do que você (como Deus ou o divino) flua através de você muda completamente o jogo.

A grande verdade é: o que você teme que vá quebrar sua alma, na verdade, só pode quebrar o seu ego. E se o ego quebrar, isso é uma coisa boa, pois permite que você se torne mais livre.

O Paradoxo do Controle

O desejo do ego de controlar é, na verdade, o desejo de permanecer em uma energia familiar. Se você sente que não tem controle, paradoxalmente, você está controlando sua definição de “estar fora de controle”.

O medo de não ter tudo planejado é o que nos mantém presos. Se você confia em algo maior que o ego, a mágica acontece.

A Diferença entre Sobrevivência e Amor

É importante diferenciar a sobrevivência do amor. Quando falamos em “linguagens do amor”, como “atos de serviço”, é preciso cuidado. Se a motivação para dar ou ajudar está ligada à sobrevivência (“Quanto mais eu dou, mais seguro me sinto”), isso pode ser uma linguagem de validação, não de amor puro. Isso é um mecanismo para se sentir seguro no momento presente, muitas vezes enraizado em comportamentos tóxicos ou desregulação do sistema nervoso.

A Prática da Entrega e o Sentir

A entrega exige que você se permita sentir as emoções. A resistência surge quando definimos o que sentimos como “ruim” e tentamos eliminá-lo. Se você se permite sentir plenamente, a resistência diminui, e a emoção pode ser liberada.

Reequilibrando o Alinhamento

Se você se sente desalinhado, o primeiro passo é a consciência de que está fora do alinhamento. No entanto, a resistência surge se você julga isso como inaceitável.

O segredo é: deixar ser OK estar fora de alinhamento. O contraste entre estar fora e dentro do alinhamento torna o estado alinhado ainda melhor. Quando você se permite sentir o que surge (inclusive as emoções “negativas”), você está, na verdade, liberando a energia presa — como um animal que treme para liberar o trauma após escapar de um predador. Esse tremor ocorre justamente quando ele começa a se sentir seguro.

A Escolha de Onde Focar a Energia

O ponto central é a escolha e não a auscaracterização de não se importar. Você deve, sim, se importar, mas escolher conscientemente com o que se importar:

* Escolha as coisas que você valoriza.
* Escolha as pessoas em quem investir energia.
* Escolha os valores pelos quais viver.

O apego, por outro lado, é frequentemente um condicionamento social ou um mecanismo de defesa contra o trauma relacional, gerando a necessidade de controle sobre a realidade externa para se sentir seguro internamente.

Em última análise, se sentir seguro em seu corpo está ligado à regulação do sistema nervoso e à coerência entre mente e coração. Ao focar na separação entre você e o ambiente externo (a técnica da “frame”), você começa a diferenciar seu estado interno da influência externa, o que permite que as emoções sejam processadas de forma mais saudável.